ESTUDO ESPÍRITA PROMOVIDO PELO IRC-ESPIRITISMO HTTP://WWW.IRC-ESPIRITISMO.ORG.BR CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS HTTP://WWW.CELD.ORG.BR TEMA:" O EMPREGO DA RIQUEZA - I." EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - CAP. XVI - ITEM 11 EXPOSITORA: DULCE MARA BRASÍLIA 19/11/2003 Dirigente do Estudo: Wania Flintz Mensagem Introdutória: AMIGO E SERVO "Ninguém pode servir a dois senhores..." - Jesus - Mateus, 6:24. "Difunde, em torno de ti, com os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras." - Cap. XVI, 11. Consulta o dinheiro que encontraste por disponível e analisa-lhe a história por um instante! É provável tenha passado pelos suplícios ocultos de um homem doente, que se empenhou a gastá-lo em medidas que não lhe aplacaram os sofrimentos; terá rolado em telheiros, onde mães desvalidas lhe disputaram a posse, nos encargos de servidão; na rua, foi visto por crianças menos felizes que o desejaram, em vão, pensando no estômago dolorido; e conquistado, talvez, por magro lavrador nas fadigas do campo, visitou-lhe apressadamente a casa, sem resolver-lhe os problemas... Entretanto, não teve o longo itinerário somente nisso. Certamente, foi compelido a escorar o ócio das pessoas inexperientes que desertaram da atividade, descendo aos sorvedouros da obsessão; custeou o artifício que impeliu alguém para a voragem de terríveis enganos; gratificou os entorpecentes que aniquilam existências preciosas; e remunerou o álcool que anestesia consciências respeitáveis, internando-as no crime. Que farias de um lidador prestimoso, que te batesse à porta, solicitando emprego digno? De um cooperador humilhado por alheios abusos, que te rogasse conselho, a fim de reajustar-se e servir? O dinheiro de sobra, que nada tem a ver com as tuas necessidades reais, é esse colaborador que te procura, pedindo orientação. Não lhe congeles as possibilidades no frio da avareza, nem lhe escondas as energias no labirinto do monopólio. Acata-lhe a força e enobrece-lhe os movimentos, na esfera de obrigações que o mundo te assinalou. Hoje mesmo, ele pode obter, com teu patrocínio, a autoridade moral do trabalho para o companheiro, impropriamente julgado inútil; o revigoramento do lar que a privação asfixia; o livro edificante que clareie as trilhas dos que se transviam sem apoio espiritual; o alento aos enfermos desprotegidos; ou a tranqüilidade para irmãos atenazados pelos aguilhões da penúria que, freqüentemente, lhes impõem o desequilíbrio ou a morte, antes mesmo de serem amparados no giro da mendicância. Dinheiro de sobra é o amigo e servo que a divina providência te envia para substituir-te a presença, onde as tuas mãos, muitas vezes, não conseguiram chegar. Sim, é possível que, amanhã, outras criaturas venham a escravizá-lo sob intenções inferiores, mas ninguém apagará o clarão que acendeste com ele para a felicidade do próximo, porque, segundo as leis inderrogáveis que governam a vida, o bem que fizeste aos outros a ti mesmo fizeste. Emmanuel Do Livro: Livro da Esperança Psicografia: Francisco Cândido Xavier Editora: CEC Oração Inicial: Jesus amigo, mais uma vez rogamos ao Teu coração generoso, que nos ampare o momento de estudo da noite. Que Teus benfeitores possam, sintonizados com este ambiente, torná-lo sempre e mais fraterno. Que seja em Teu nome e em nome de Deus, que iniciamos a reunião da noite. Que assim seja! Exposição: Olá, amigos! Uma das passagens da vida de Jesus, das mais altamente significativas, é a cerimônia do lava-pés, quando Ele nos deixa a imorredoura lição de que Ele, e todos os que se fazem seus seguidores, vieram à Terra para servir - a Deus e ao próximo - e não para serem servidos. Cheverus, na importante mensagem contida no item 11 do Capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos relembra a preciosa advertência de Jesus, que dá título ao capítulo: Não se pode servir a Deus e a Mamon. Vale a pena nos determos um pouco sobre esta palavra: SERVIR. Quais os seus significados e implicações, no contexto da mensagem crística? A atitude de servir implica não só em doar, mas acima de tudo em doar-se; não só em atender ao próximo, mas atender ao próximo com verdadeira solidariedade; com verdadeiro amor; implica em envolver-se. A pessoa que quer e diz viver a mensagem crística, sendo, portanto, servidor de Deus, deve se comprometer com esta Causa e então doar e doar-se amorosamente. E é impossível doar-se amorosamente, ou seja, viver profundamente os valores espirituais, perenes, ao mesmo tempo em que se cultiva o apego à matéria (Mamon). É verdade que estamos na matéria, no mundo, e, portanto, necessitamos utilizarmo-nos da matéria e vivermos no mundo. Isso, porém, não implica em que vivamos para a matéria e sejamos do mundo. O cultivo dos valores espirituais, perenes, é necessidade urgente e constante em nossas vidas, até para que possamos dimensionar corretamente as nossas necessidade materiais e empregarmos os recursos disponíveis a nós, quaisquer que sejam (simbolizados no Evangelho sob o termo "riqueza" ou "fortuna"), dentro de uma perspectiva espiritualista, cristã. Muitos de nós já temos o conhecimento intelectual destas passagens e compreendemos a necessidade do desapego à matéria e da prática em direção ao Bem. Muitos de nós, porém, entramos em "briga" com a matéria, castigando nosso corpo e privando-nos de prazeres e alegrias perfeitamente legítimos, enveredando pelo caminho das "práticas externas", que são apenas um jogo para adiarmos a necessária e inevitável transformação moral. Assim, Cheverus, após contextualizar-nos acerca da advertência de Jesus, nos convida à auto-análise e ao trabalho de reforma íntima, quando afirma: "Se, pois, sentis vossa alma dominada pelas cobiças da carne, dai-vos pressa em alijar o jugo que vos oprime..." Interessante ressaltar a propriedade da expressão utilizada por Cheverus para significar o impacto que o apego à matéria nos causa à alma: jugo opressor. Todos os que temos uma vida relativamente confortável, em especial aqui no Brasil, onde as desigualdades sociais são imensas e realmente vergonhosas, sentimos o peso desse jugo, toda vez que nos damos o trabalho de meditarmos sobre estas questões. E muitas vezes adotamos a culpa, por termos um tanto mais que muitos de nossos irmãos, e, mesmo sabendo que abandonar todos os nossos bens para nos unirmos à mendicância crescente, isso em nada ajudará ou resolverá o problema, seguimos com esse sentimento de culpa em nosso coração. Assim, muitas vezes, buscando aliviar o peso desse jugo que carregamos n'alma, quando deparados com um de nossos irmãos mais necessitados, que nos interpelam nas ruas a pedir ajuda, partimos logo para a esmola, doada as mais das vezes com certa ansiedade, na esperança de que a presença, incômoda à nossa consciência atormentada, se afaste o mais rapidamente possível. A ajuda, no entanto, assim doada, sem amorosidade, sem envolvimento, muitas vezes com desconfiança, queima a mão que a recebe, machuca o coração daquele a quem talvez um sorriso amigo, um olhar fraterno, proporcionasse um bem muito maior. E seguimos nessa situação, muitas vezes por vidas e vidas, ora na posição de doador, ora na posição de necessitado, adiando sempre a reforma tão necessária: a do nosso mundo interior. Cheverus, no entanto, traz a todos que se dão ao trabalho de meditar em sua mensagem, excelente direcionamento para superarmos essa questão que nos parece quase insolúvel: "Qual, então, o melhor emprego que se pode dar à riqueza?" Apesar do exemplo magnífico de Jesus e tantos outros Espíritos de Escol que vieram à Terra, durante muitos séculos, a Sociedade Ocidental entendia a Caridade, de forma distorcida, simplesmente como doação de esmola. Ainda quando eram prestados serviços, como o da assistência à saúde, ou à infância, os serviços eram prestados de modo que os beneficiados não galgavam mudanças significativas em sua condição, perpetuando a relação doador-necessitado, e, por conseqüência, a vergonha, a humilhação e a desesperança de um lado e o incômodo, a vergonha e a culpa de outro. Só muito recentemente este conceito vem se modificando e a Sociedade tem descoberto o valor da verdadeira Caridade, que deve espelhar sempre a regra áurea que Jesus nos ensinou: "Amai-vos uns aos outros". Durante muito tempo, o meio social entendia a Caridade e o bom emprego da fortuna, como a esmola dada, pelos que estavam em condição superior, àqueles que se encontravam em condição inferior, numa relação humilhante e vexatória para ambos. Só muito recentemente uma outra postura está sendo adotada, mais consentânea com os ensinamentos cristãos, e que implica numa relação mais fraterna e verdadeiramente solidária, onde aqueles que têm algo a oferecer o fazem de maneira plenamente amorosa, de forma não a humilhar, mas a erguer o outro. Cheverus deixa-nos nesta pequena grande mensagem, contida nO Evangelho Segundo o Espiritismo, um precioso roteiro para a verdadeira prática evangélica, no tocante ao emprego dos recursos materiais; passemos a ele a palavra, para que nos relembre (grifos nossos): "Rico!... dá do que te sobra; faze mais; dá um pouco do que te é necessário, porquanto o de que necessitas ainda é supérfluo. Mas, dá com sabedoria. Não repilas o que se queixa, com receio de que te engane; vai às origens do mal. Alivia primeiro; em seguida, informa-te E VÊ SE O TRABALHO, OS CONSELHOS, MESMO A AFEIÇÃO NÃO SERÃO MAIS EFICAZES DO QUE A TUA ESMOLA. Difunde em torno de ti os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras. A riqueza da inteligência, deves utiliza-la como a do ouro. DERRAMA EM TORNO DE TI OS TESOUROS DA INSTRUÇÃO; DERRAMA SOBRE TEUS IRMÃOS OS TESOUROS DO TEU AMOR e eles frutificarão". Notemos que ele nos convida a irmos além da atitude meramente assistencialista, que no Movimento Espírita é muito intensa, como a doação de cestas básicas, roupas, calçados e remédios, itens realmente necessários a quem não tem o suficiente para viver, mas que, em verdade, pouco contribue apenas muito indiretamente para o reerguimento mais consistente daquele que recebe o benefício. Cheverus, no entanto, nos convida a uma atitude mais cidadã. Já em 1861, data da mensagem, quando o conceito de cidadania, como nós o entendemos hoje, era pouco evidenciado ou mesmo inexistente, o Espiritismo nos já concitava a uma postura cidadã, incentivando-nos a buscar uma atuação no mundo, com verdadeira Caridade, ou seja, a empreendermos ações que possam levar aquele que hoje encontra-se na situação de necessitado a reerguer-se, recompor-se e crescer, tornando-se igualmente um cidadão, com a sua dignidade preservada. Pensemos nisso, meus irmãos: que as cestas básicas continuem, como atividades necessárias que são, no atendimento a situações emergenciais; porém, ao lado delas, incluamos, na medida do possível, atividades de educação de jovens, adultos e crianças; alfabetizemos as pessoas; empreendamos ações de capacitação de jovens e adultos em idade de trabalho; proporcionemos a oportunidade dessas pessoas que auxiliamos gerarem a sua própria renda e poderem se sustentar e à sua família, com dignidade e estaremos atendendo verdadeiramente ao convite de Cheverus que é o mesmo sublime convite de Jesus: "Amai-vos uns aos outros". Que o Amor do Bem inunde as nossas almas, hoje e sempre! Oração Final: Jesus, muito Te agradecemos, pela oportunidade desta noite. Abençoa-nos, fortalecendo a nossa vontade de trabalhar em Tua seara. Que seja em Teu nome, em nome do Teu amor infinito, mas sobretudo em nome de Deus, o encerramento desta atividade. Graças a Deus!